Somos
todos os dias expostos a um conjunto de intervenções, opiniões e análises que
dissecam a nossa vida económica, identificam problemas, sublinham dificuldades,
desvalorizam acções, métodos, esforços e sacrifícios, e acabam por contribuir,
a par do desemprego e das crescentes dificuldades das famílias, para baixar a
auto-estima nacional e para uma descrença generalizada. A informação é sempre
importante, até porque prepara as pessoas para melhor decidirem, mas não
estaremos na presença de uma overdose?!...
Esta
auto-flagelação não é um dado novo, nem é uma característica que atinge apenas
os últimos governos de Portugal, é algo que vem de tempos imemoriais e que já
Luís de Camões identificou, no canto IV dos Lusíadas,
quando criou a personagem do “Velho do
Restelo”.
Vivemos
momentos muito difíceis, os empregos escasseiam e a qualidade de vida das
pessoas cai a olhos vistos, mas nem isso foi suficiente, até agora, para que os
diversos actores políticos e/ou parceiros sociais conseguissem estabelecer (ou
fazer perdurar) uma plataforma de entendimento mínimo!...
Se
verificarmos, com atenção, todos os que hoje estão do lado das análises críticas
encontramos:
- Revolucionários, cujo ideário visa construir um dia-a-dia sem liberdade económica, sem iniciativa privada;
- Ultra-liberais que pretendem diminuir impostos, reduzindo também o Estado e os apoios sociais;
- Anarquistas e grupos de acção radical que usam a violência como arma de intimidação e de condicionamento dos outros;
- Capitalistas dos serviços e da distribuição que precisam do consumo interno para realizar os seus negócios;
- Opositores, os que em cada momento se opõem, garantindo desse modo (?) a alternância democrática;
- A maior parte dos portugueses que vê os seus rendimentos e os empregos diminuir;
- Classes profissionais – entre muitos outros - que vão sendo afectadas pelas enormes medidas de austeridade.
Ou
seja, não é possível colher o consenso (bastante) entre aquilo que uns e outros
dizem defender, temos por isso, de facto, um problema!
Creio
que só se insistirmos na diplomacia económica e sublinharmos a
contenção/elevação democrática do nosso Povo poderemos evidenciar que temos das
melhores condições à manutenção, fixação e instalação de empresas. O caso da Autoeuropa, apesar de todas as
contrariedades do mercado, é um exemplo de que os entendimentos mínimos são
possíveis e são desejáveis, a bem do colectivo.
Não
há empregos, sem empreendedores e sem empresas, e os que decidem “arriscar” e
investir só o farão se estiverem reunidas algumas condições, entre elas,
seguramente, alguma tranquilidade e estabilidade social, mas também factores de
atractibilidade do País e das regiões, como sejam menos impostos e taxas sobre
as empresas que criem emprego, menos burocracia, maior eficácia judicial, etc.
Se
todos tentarmos valorizar de algum modo o que temos de positivo talvez fique
mais fácil vencer os problemas!...
Infelizmente
o desânimo é enorme, as famílias mais afectadas por esta crise são muitas, o
Governo eleito há ano e meio perdeu (desbaratou), em grande medida, a confiança
dos portugueses, não quis (ou não soube) mobilizá-los para este desafio mas,
mesmo assim, se não formos nós a acreditar em nós, quem o fará?!
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