domingo, 24 de março de 2013

BIOCOMBUSTÍVEIS INSUSTENTÁVEIS


Percebemos que hajam limitações financeiras que posam condicionar o uso de soluções ambientalmente mais favoráveis, mas os governantes europeus e mundiais têm de assumir que a sustentabilidade da Terra já há muito que deixou de ser entendida como um problema local ou regional. Quando as condições para a nossa sobrevivência enquanto espécie se agravarem, findam para todos e não apenas para alguns!... A notícia que se reproduz lembra-me um título de um livro que li em criança: “Estes romanos devem estar loucos!


Hoje {dia 21-03-2013] haverá uma reunião do Conselho do Ambiente da União Europeia, em que se discutirão os biocombustíveis. Os ministros da Energia reuniram-se no passado dia 22 de fevereiro e a posição do Governo Português consistiu na rejeição dos factos científicos e a insistência numa tecnologia que emite mais emissões de carbono do que os próprios combustíveis fósseis. Num rumo crescente de insustentabilidade é necessário que os nossos governantes parem de promover a destruição dos recursos naturais na Europa e no país.

Perante as evidências científicas de que muitos biocombustíveis de facto poluem mais que os próprios combustíveis fósseis, contribuindo para uma alteração massiva da utilização dos solos agrícolas e florestais, para a desflorestação, a degradação dos solos e a redução da matéria orgânica, a escolha de muitos governos europeus, entre os quais o português, é olhar para o outro lado e insistir em práticas nocivas no apoio à indústria subsidio-dependente dos biocombustíveis.
A posição da Comissão Europeia perante estes factos é fraca, pedindo que se limite o biodiesel e o bioetanol a 5% do total dos combustíveis utilizados para os transportes, que se utilizem crescentemente resíduos e não culturas para produzir biocombustíves e que se introduzam os fatores ILUC (alterações indiretas do uso de solos) para se poderem contabilizar as verdadeiras emissões de carbono associadas aos biocombustíveis. Mas mesmo esta posição é rejeitada de forma irresponsável por vários países, entre eles Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Os governantes da Europa, de forma insustentável, insistem em estratégias falhadas e destrutivas, sendo este mais um exemplo desta realidade .
O objetivo anterior, presente na Diretiva das Energias Renováveis, de incorporar 10% de energias renováveis no setor dos transportes até 2020 não tinha em conta os estudos concludentes de que a utilização dos biocombustíveis, quando tem em conta as suas verdadeiras emissões, aumenta as emissões e tem impactos severos na segurança alimentar e na utilização dos solos.
Estes governos que se opõem às restrições aos biocombustíveis utilizam a desculpa do desconhecimento dos estudos e falta de certezas dos mesmos, mas foi a própria Comissão Europeia que avançou com as propostas com base nos estudos que confirmam o caráter destrutivo das práticas que têm produzido os biocombustíveis.
Numa altura em que muito se fala em Portugal sobre desenvolvimento do potencial agrícola, com a utilização de más práticas e a insistência em irrigação sem qualidade, a posição do governo perante mais este tema revela a insistência no curto prazo e na insustentabilidade para as gerações futuras como guias das políticas do ministério, que comprometem o potencial ambiental, florestal e agrícola, a segurança alimentar e a diversidade biológica do país.

3 comentários:

  1. O USO de biocombustiveis NÃO aumenta as emissões de gases com efeitos de estufa. O que determinados estudos referem é que a PRODUÇÃO destes composto quimicos é efectuada por reações endotérmicas, isto é, que consomem mais energia do que aquela que se obtem na combustão dos biocombustiveis, e que, considerando todas as variaveis geram estrago ao ambiente superior à poupança que se obtem com a sua incorporação nos combustiveis fosseis. A solução não será claramente abandonar a sua incorporação mas sim desenvolver processos de produção mais "amigos do Ambiente" como o uso como reagentes, de residuos (oleos alimentares usados, gordura animal, etc) ou até como já se fala com alguma insistência algas criadas para o efeito. A questão dos combustiveis fosseis não se centra exclusivamente nas emissões de gases com efeito de estufa (CO2 e CH4)mas tambem e essencialmente porque as suas reservas são finitas e obrigatoriamente torna-se necessário encontrar alternativas ao seu consumo. Acresce ainda o facto de países como Portugal não produtores de petróleo terem necessidade de equilibrar a sua balança comercial na qual a importação de energia desempenha um papel demasiado pesado para o prato das importações.

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    1. Obrigado pelos esclarecimentos complementares EA. Há cerca de 4 anos estive numa tertúlia/debate em Salvaterra de Magos em que o tema era precisamente o fim dos combustíveis fósseis com a correspondente evolução de preços que seriam eles próprios geradores de instabilidade, retrocesso..., a menos que se mudasse o paradigma energético. As suas palavras recordaram-me o que aí aprendi e retive.

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  2. É evidente que o Sr. Eng.º possui consciência ambiental apurada, daí não me admirar o seu interesse por este assunto e outros relacionados com esta temática, tão importante e sempre vergada ao poder do capital. Deixo no entanto a sugestão de colocar este tema em cima da mesa de novas tertúlias. ;)

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