A
notícia que de seguida se publica é ainda um passo inicial para a criação de um
rim humano artificial, mas os resultados obtidos são desde já promissores. A
investigação vai prosseguir, o que faz acreditar que um dia lá chegaremos e
dessa forma será possível ajudar muitos milhares de pessoas que padecem de
insuficiência renal.
Cientistas nos EUA produziram um rim
através de bioengenharia e transplantaram-no para um animal vivo, onde o órgão
começou a produzir urina, revela hoje a revista 'Nature Medicine'.
Os investigadores, do Hospital Geral de
Massachussetts, em Boston, contam ter produzido um rim funcional e capaz de ser
transplantado utilizando a estrutura de um órgão doado que foi limpo de todas
as células vivas.
Esta abordagem já antes fora usada para
criar corações, pulmões e fígados bioartificiais, mas o rim foi um dos órgãos
mais difíceis de produzir até agora.
"O que é único nesta abordagem é
que a arquitetura do órgão nativo é mantida, pelo que o rim resultante pode ser
transplantado como se fosse um órgão de dador e ligado aos sistemas urinário e
vascular do recetor", explicou o autor principal do estudo, o médico
Harald Ott.
"Se esta tecnologia puder ser
utilizada em enxertos de tamanho humano, os pacientes que sofrem de falência
renal e atualmente esperam rins de dador ou não são candidatos a transplante
podem teoricamente receber novos órgãos derivados das suas próprias
células".
Em Portugal, cerca de duas mil pessoas
estão em lista de espera para um transplante renal e mais de 10 mil dependem de
diálise, segundo dados divulgados em setembro pela Sociedade Portuguesa de
Nefrologia (SPN).
Segundo a Sociedade Portuguesa de
Transplantação, desde 1980 já foram transplantadas cerca de 10 mil pessoas,
mais de 500 por ano desde 2008.
No entanto, mesmo as pessoas que recebem
um transplante enfrentam uma vida de medicamentos imunossupressores, que
comportam riscos e não excluem completamente a possibilidade de uma rejeição do
órgão, além de que um rim transplantado tem uma duração de apenas 10 a 15 anos
de vida.
Rim artificial duradouro
Encontrar uma nova forma de substituir
órgãos que permita usar as células do próprio paciente e que dure o resto da
vida do paciente seria, por isso, um grande passo em frente.
No trabalho agora divulgado, a equipa de
Ott usou um rim de rato, ao qual retirou todas as células funcionais com uma
solução de detergente, deixando apenas a estrutura de colagénio que dá ao órgão
a sua estrutura tridimensional.
Os investigadores introduziram então
nessa estrutura os tipos de célula apropriados - células humanas endoteliais
para substituir o sistema vascular e células de rim de ratos recém-nascidos -
após o que os órgãos ficaram a crescer em laboratório durante 12 dias, até
terem coberto toda a estrutura.
De seguida, os cientistas implantaram o
órgão num rato vivo, onde o rim começou a filtrar o sangue do animal e a
produzir urina, sem dar sinais de hemorragia ou de formação de coágulos.
A função renal dos órgãos regenerados
era significativamente reduzida quando comparada com um rim normal e saudável,
pelo que Ott reconhece que a técnica pode ser melhorada, mas tem confiança nas
suas potencialidades.
"Baseados nestes resultados
iniciais, esperamos que rins de bioengenharia possam um dia ser capazes de substituir
totalmente a função renal como um rim de dador. Num mundo ideal, estes enxertos
poderiam ser produzidos 'a pedido' com base nas células do próprio paciente,
ajudando-nos a ultrapassar a falta de órgãos e a necessidade de imunossupressão
crónica".
Lusa
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