1.8.1920 - Roberto da Fonseca, antigo toureiro de Salvaterra, dirige a corrida inaugural da praça de toiros local.
Hoje que passam 92 anos sobre a data que a foto ilustra, não podíamos deixar de acolher a sugestão de José Rodrigues Gameiro de aqui reproduzir uma entrevista com 42 anos, feita ao único elemento da Comissão de Construção da Praça de Touros que, em 1970, ainda estava vivo - Sr. José Luís das Neves.
A entrevista foi publicada no jornal "Aurora do Ribatejo", sediado em Benavente, na página destinada ao nosso concelho intitulada "Jornal de Salvaterra", página esta que foi inicialmente dirigida por José António Teodoro Amaro a que se seguiu o Dr. José Asseiceira Cardador.
A entrevista a que aludi no parágrafo inicial foi conduzida por José António Amaro (Tamaro) e por José Rodrigues Gameiro, um colaborador de longa data do jornal, e pretendia assinalar os 50 anos da inauguração daquela Praça de Touros.
Terreno junto à EN 118, ao fundo a Praça de Touros (1956)
“1 de Agosto de 1920 – Um grupo de salvaterrenses viu transformado em realidade um sonho de 2 anos; uma Praça de Toiros!
Justo é, na comemoração da efeméride, que o jornal de Salvaterra dê aos seus leitores alguns dados históricos da obra. Para isso, contactamos o único membro da Comissão Construtora, felizmente ainda entre nós e de boa saúde, o senhor JOSÉ LUIS DAS NEVES.
Fomos encontra-lo à sua mesa de trabalho numa sala do rés-do-chão, do Grémio da Lavoura, e entre guias de entrega de sementes, dispôs-se amavelmente a transmitir as suas recordações.
“ A ideia da construção da Praça surgiu no meu estabelecimento de mercearia e vinhos, situado na Rua Direita, onde mais tarde existiu uma mercearia pertencente a Manuel Xavier da Silva”. – “Pensamos na sua construção por inveja da que havia em Benavente. Quando em 1918 depois de assistir à inauguração alguns aficionados se juntaram na minha loja e mostraram “ferro” por estarmos tão atrasados em relação aos vizinhos ali mesmo foi decidido que teríamos dentro tempo uma praça melhor que a deles”.
O soco na mesa que frizou as últimas palavras, deu-nos a medida certa da vibração que ainda produz no nosso entrevistado a recordação a recordação da cena passada em 1918, num estabelecimento da Rua Direita. – “E olhe que realmente ficou melhor”, continuou o sr. José das Neves que não tivemos coragem para interromper, construída em alvenaria, enquanto a de Benavente era de adobes e desapareceu pelo tremor de terra, enquanto a nossa está ali que se vêr”. – “O grande problema como deve calcular”, foi o arranjar dinheiro”.
- “ Depois de se conseguir por intermédio do então Ministro do Comércio, Jorge Nunes, que a madeira necessária fossa oferecida pelo Estado e cortada no Escaropim, o dinheiro para o resto foi conseguido com ofertas: dois tostões deste, três tostões daquele, um cruzado do
outro, foram as migalhas que juntas a ofertas maiores formaram74 contos de réis e picos que custou a nossa praça”. – Quais foram as maiores e menor oferta em dinheiro que conseguiram para a construção? Perguntamos.
- “ Olhe, se não me falha a memória, a maior foi do sr. Porfírio Neves da Silva, que ofereceu um conto de réis, que na altura era uma quantia choruda e a menor… – “O sorriso do nosso entrevistado faz-nos antever uma revelação sensacional – “foi do sr.José de Menezes que ofereceu 500 mil réis para não pensarem mais nisso”.
- Pessoa amiga fez-nos chegar às mães meia dúzia de fotografias que sopunha serem da inauguração da praça e pedimos ao sr. José das Neves que as identificasse: Eram realmente da corrida inaugural e com uma lágrima teimosa a querer fazer das suas, lá nos indicou o sr. Roberto Jacob da Fonseca, inteligente da corrida; os srs. Henrique Avelar da Costa Freire; Porfírio Neves da Silva, João Oliveira e Sousa; João Vasco, Silvio Moiro, Administrador;
Manuel Doutor, corneteiro da corrida; Henrique José Martins, farmacêutico e animador do “Grupo do Ti Martins” que se dedicava a patuscadas. Fernando Luís das Neves, pai do entrevistado, enfim um nunca mais acabar de recordações. – “Olhe, este aqui de chapéu sou eu”.
José das Neves, mais à vontade e visivelmente emocionado abre por sua vez o seu armário de recordações e mostra-nos jornais da época, programas das corridas e como curiosidade uma folha de férias: - “Os pedreiros ganhavam entre 15 e 17 tostões e os serventes entre cruzado e oito tostões, e nessa semana 36 operários trabalhando 7 dias receberam 234.710 réis (dois dias de ordenado dum pedreiro de 1970). – “Um exemplar do jornal “A Elite” chama-nos a atenção por na página 2, numa lista de 11 nomes, 10 terem à sua frente uma cruz “É que todos esses já morreram, só eu ainda cá estou”, explica o nosso entrevistado, dizendo seremos componentes da Comissão Construtora da Praça. “ Neste aqui já não serei eu, a por a cruz, disse apontando para o nome.”
Eram o Pedro Sousa Marques, Luiz Gonçalves da Luz, Augusto da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Francisco Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves, Francisco Morais, António Henriques Alexandre, Augusto de Almeida, José Luiz das Neves, um grupo de 5 operários, 4 comerciantes, 1proprietário e 1 industrial de barbearia.
-“ A Comissão organizadora das corridas eram composta por: António de Sousa Vinagre, Dr. Armando de Sousa Calado, Dr. Roberto Ferreira ad Fonseca, José Rebelo Andrade, Henrique Costa Freire.
- Mostrando-nos o cartaz disse: Actuaram nesta 1ª corrida: Cavaleiros; José Casimiro e Adolfo Macebeiro Tomé, Vital Mendes Francisco Rocha, Mateus Falcão e Manuel dos Santos, da Golegã. – Forcados; comandados por Manuel Burrico. Os 10 touros foram generosamente oferecidos pela ganadaria Roberto & Roberto.
- “Não, não entregamos logo a praça à Misericórdia”, afirma em resposta a nova pergunta.
“ Durante um ano e tal organizamos toiradas e vacadas para arranjar dinheiro para pagar as dívidas que ainda havia”. – Nesse tempo era tão fácil organizar corridas como fumar um cigarro… Não havia tantos papeis e tantas coisas a tratar e quando pensávamos fazer, fazíamos”.
- “ Além do mais, não queríamos que aparecessem no Hospital contas a pagar por despesas que nós fizemos. A praça foi entregue livre de todos os encargos”.
- “Sabendo o que lhe custou na obra, se voltássemos a 1918, faria parte da Comissão Construtora da Praça? Perguntamos pela última pergunta. “Apesar das muitas canseiras e do trabalho que tive, se voltasse atrás fazia exactamente o mesmo, juntava-me às mesmas pessoas e construíamos a Praça que está ao cimo da avenida. Não dou por mal empregado o tempo que me ocupou”.
- O nosso entrevistado é interrompido e chamado à realidade pelo “interfone” (tubo com 2 bocais – um para ouvir outro para falar, metido na parede que liga a sala onde estamos com o 1º andar), perguntam-lhe assuntos de serviço, fazendo-o voltar a 1970.
Já na mesa observa mais uma vez que lhe trouxemos. Abre a gaveta e pega numa lupa; “Este esteve muitos anos em Lisboa…. Estoutro foi para Muge… A mulher do Luiz Caleiro tem ainda a mesma cara….” Dizia em última análise, revivendo os 27 anos que tinha em 1920."
(in Apontamento Nº 05 – Misericórdia de Salvaterra de Magos e no Nº 18 – Inaugurações e Homenagens da Colecção “Recordar, Também é Reconstruir” de José Rodrigues Gameiro
- Livro: Subsídios para a História da Tauromaquia em Salvaterra de Magos – publicado em PDF no Blogue: “www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt”)
gostaria de ver fotos dos forcados de salvaterra de magos de 1976 e 1977 se fosse possivel
ResponderEliminarNão temos em nosso poder fotos das datas que solicita. Recomendo por isso que, se o desejar, contacte o grupo de forcados e/ou o clube turino, ambos em Salvaterra de Magos. Obrigado.
ResponderEliminarApós 92 anos, a praça da nossa TERRA é entregue em concurso a uma empresa, em prol de 2 Associações da TERRA... Numa corrida comemorativa o Grupo de forcados da TERRA nem sequer é convidado a participar... Enfim, estes Srs. todos que colaboraram com a construção da praça devem estar muito orgulhosos, onde quer que estejam as suas almas, na Direcção da Misericórdia que com tanto orgulho defende hoje em dia os motivos para que se construiu uma Praça em Salvaterra, e que a eles foi entregue gratuitamente para exploração.
ResponderEliminarA TERRA é boa, algumas pessoas é que....
AS