Conhecer a vida no planeta antes da
existência da espécie humana parece ser um trabalho nunca acabado e dependente
de “achados” pontuais de que a notícia que seguidamente se publica é um
exemplo.
A
reconstrução do passado histórico da Vida no planeta Terra é um trabalho
contínuo que resulta diretamente do estudo do registo fóssil. Apesar de ser
fragmentário e incompleto, este registo é uma preciosa janela que permite o
acesso a tempos muito anteriores ao aparecimento espécie humana.
O
aparecimento das primeiras formas de vida e a determinação das suas
características tem fascinado gerações de cientistas mas o progresso nesta área
pode ser um processo lento, acelerado apenas por descobertas pontuais muito
significativas de fósseis.
Recentemente,
uma equipa de investigadores britânicos e canadianos protagonizou uma destas
descobertas importantes ao recuperar, em rochas da Terra Nova (Canadá) que
estão entre as mais “velhas” que possuem fósseis, aqueles que são os seres
tipo-animais fossilizados mais antigos que se conhecem.
Trata-se de
rangeomorfos (do inglês rangeomorphs), organismos multicelulares cuja forma
faz lembrar a de certo tipo de corais mas que, na realidade, não se assemelham
a nenhum organismo vivo e que não se sabe ao certo onde se encaixam na árvore
da Vida.
Com
efeito, estes seres “misteriosos” terão vivido sob os oceanos a grandes
profundidades, onde a luz não chega, o que torna impossível que sejam plantas.
No entanto, também é possível que não tenham apresentado todas as
características que identificam um animal.
Os fósseis de
rangeomorfos agora recuperados na Reserva Ecológica de Mistaken Point foram preservados para a posteridade por
terem ficado envoltos pela cinzas resultantes da erupção de um vulcão numa ilha
vizinha, que terá tido lugar há 579 milhões de anos, no Período Edicariano,
durante o qual apareceram os primeiros organismos multicelulares.
Os 100 exemplares em
causa, que têm entre 6 mm e menos de 3 cm de tamanho, aparentam ser formas
imaturas significativamente mais pequenas que as formas que lhes deram origem,
encontradas em áreas vizinhas, que podiam atingir os 2 m de comprimento, é
anunciado num artigo que será publicado no número de julho da revista Journal of the Geological Society.
Alexander
Liu, investigador da Universidade de Cambridge que é um dos autores do artigo
que será publicado em breve explica a relevância da descoberta “Estes
juvenis estão excecionalmente bem preservados, e incluem espécies nunca antes
encontradas em rochas com esta idade, o que aumenta a diversidade taxonómica
conhecida dos sítios onde foram recuperados fósseis do princípio do Período
Edicariano”, ao que acrescenta “A descoberta confirma uma diversidade de formas
fósseis de rangeomorfos digna de nota muito cedo na sua história evolutiva”.
Por seu lado, Martin Braser, docente da Universidade de
Oxford que também participou na investigação, dá a conhecer o passo seguinte da
investigação “Estamos agora a explorar ainda mais atrás no tempo para
tentar descobrir exatamente quando é que estes misteriosos organismos apareceram
pela primeira vez e aprender mais sobre os processos que levaram à sua
diversificação na «explosão do [Período] Edicariano» que pode se pode ter
refletido na profusão de novas forma que vemos no Câmbrico [o período que se
seguiu e teve lugar entre há 542 e 488 milhões de anos atrás]”.
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