Continuam
a morrer anualmente milhares de jovens em resultado do consumo excessivo de
drogas ilícitas. A rentabilidade do “negócio” continua a ser o móbil do tráfico
que as autoridades policiais tentam combater por via da apreensão de algumas
toneladas de drogas das muitas mais que estão em circulação.
O
que na verdade vamos constatando é que de um modo geral o consumo de mantém,
talvez atingindo menos dos nossos jovens, e as acções policiais têm, na minha
opinião, seguramente pouco informada, efeitos contraditórios. Se por um lado
mantém a ideia de que o consumo e o tráfico são atitudes socialmente e/ou
judicialmente condenáveis, a verdade é que também contribuem para o aumento dos
preços, pois a oferta diminui. Esse adicional de custo que os dependentes
dessas substâncias têm de conseguir, acaba por estar directamente relacionado
com o número de assaltos e de furtos que atingem as pessoas e os seus bens.
Acredito,
de há muitos anos a esta parte, que haveria toda a vantagem em a Europa no seu
conjunto encontrar uma nova forma de abordagem a esta problemática, que
contribuísse de modo mais eficaz para a sua erradicação. Recordo muitas vezes o
que sucedeu nos Estados Unidos da América com a entrada em vigor da Lei Seca – os negócios que mais
floresciam eram o da produção e comercialização de álcool. Não sei se a
legalização do consumo das drogas leves é um caminho, mas é preciso fazer mais
alguma coisa, pelo menos enquanto os nossos jovens caem que nem tordos…
O consumo de droga é uma das principais
causas de morte entre os jovens na Europa, refere o Relatório Europeu sobre
Drogas 2013, hoje divulgado em Lisboa pela agência europeia de informação sobre
este problema(EMCDDA).
Segundo o documento, a taxa de mortalidade
– provocada diretamente pelo consumo de droga, através de ‘overdoses’, ou
indiretamente, por doenças várias, sobretudo infectocontagiosas, e acidentes,
violência e suicídio - ronda os 1 a 2 por cento (%) por ano.
Os últimos dados compilados pelo EMCDDA (OEDT-
Observatório Europeu da Droga e Toxicodendência na anterior designação em
português) apontam para uma descida do número de mortes por ‘overdose’,
registando-se, ainda assim, 6.500 casos.
A canábis é a droga ilícita mais
experimentada pelos estudantes europeus, embora esse consumo tenha diminuído
ligeiramente em relação ao início do século XXI.
Mesmo assim, os especialistas estimam
que 15,4 milhões de jovens europeus, entre os 15 e os 34 anos, tenham consumido
canábis no último ano.
A canábis é, destacadamente, a droga
mais apreendida na Europa, com cerca de 2.500 toneladas por ano, seguida da
cocaína, que registou o dobro das apreensões notificadas para as anfetaminas e
para a heroína.
Segundo o relatório, o número de
apreensões de drogas ilícitas efetuadas na Europa atingiu, em 2011, um milhão,
sendo que a tendência tem sido de crescimento substancial.
A maioria das apreensões foi comunicada
pela Espanha (dois terços, devido à proximidade com Marrocos e ao seu
substancial mercado interno) e pelo Reino Unido, mas a Bélgica e quatro países
nórdicos também apresentaram números altos.
Já a heroína registou o menor número de
apreensões da última década, ficando-se nas 6,1 toneladas, ou seja, cerca de
metade do que foi apreendido em 2001.
“Esta descida pode explicar-se pelo
aumento das apreensões realizadas entre 2002 e 2009 na Turquia, que, desde
2006, vem apreendendo esta droga em quantidades superiores às de todos os
outros países em conjunto”, avança o Observatório para as Drogas e
Toxicodependência, com desse em Lisboa.
Menos 50% de apreensões de cocaína
As apreensões de cocaína, cuja principal
rota de tráfico para a Europa passa pela Península Ibérica, diminuíram quase
50% em relação a 2006, representando o equivalente a 62 toneladas em 2011.
No caso das anfetaminas, depois de um
período de crescimento, o número de apreensões regressou aos valores de 2002,
tendo sido reportadas, em 2011, 45 mil apreensões, ou seja, cerca de 6,5 mil
toneladas.
Também em diminuição de oferta está o
ecstasy, cujo fabrico na Europa terá atingido o nível máximo em 2000, ano em
que foram desmantelados 50 laboratórios.
Em 2011, apenas cinco laboratórios foram
desmantelados, o que “sugere uma diminuição da produção”, diz o relatório.
No entanto, alerta o Observatório
Europeu, o mercado tem sido invadido por drogas novas, não controladas pelo
direito internacional, muitas vezes rotuladas como ‘alimentos para plantas’.
Só no ano passado, adianta, os 27
Estados-membros, a Noruega, a Croácia e a Turquia [que integram o relatório de
2013] notificaram 73 novas substâncias psicoativas.
Os dados do relatório deixaram a
comissária europeia dos Assuntos Internos, Cecilia Malmström, “simultaneamente
confiante e preocupada”.
Por um lado, as políticas de luta contra
a droga e os níveis recorde de tratamento parecem estar a diminuir o consumo da
heroína, da cocaína e da canábis em alguns países, o que também reduz a
transmissão de VIH, elogiou a comissária.
“Mas estou também preocupada, pois um
quarto dos adultos europeus — ou seja, 85 milhões de pessoas — já consumiu uma
droga ilícita o que significa que o consumo de drogas na Europa se mantém
elevado”, ressalvou.
A sua preocupação deve-se também ao
facto de existir “um mercado de estimulantes cada vez mais complexo e uma
oferta imparável de novas drogas, que são cada vez mais variadas”.
Questão também abordada pelo diretor do
EMCDDA, Wolfgang Götz, que lembrou que o problema da droga está “em constante
evolução”.
“A nova estratégia da UE de combate à
droga para 2013-20 terá de lidar com um problema que se encontra num estado
permanente de mudança e com um mercado fluído, dinâmico e em rápida evolução.
Acredito que este relatório constitui um recurso valioso para responder aos
desafios que se avizinham”, concluiu.
SAPO Saúde com Lusa
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