domingo, 11 de dezembro de 2011

DANOS COLATERAIS


Na última edição do jornal FUNDAMENTAL está publicado um artigo de opinião que suscita algumas questões que vão partilhando o nosso dia-a-dia.
  • A realidade tem-se mostrado bem mais penalizante para as pessoas do que aquilo que cada uma diz pretender. Culpa delas?!
  • O que fazer então perante a nossa “culpa” colectiva e a nossa “inocência” individual?!

É já um lugar-comum, de tão verbalizado a propósito de tudo e de nada, afirmar-se: “as pessoas contam” ou “as pessoas estão em primeiro lugar”. O que parece é que os próprios ainda não o sabem!
Desconhecem-no os que se demitem de educar e acompanhar os filhos. Ignoram-no os que carecendo de formação académica e/ou profissional optam por desistir de si mesmos. Desprezam-no os que se limitam a reclamar e a exigir sem nada fazer para alcançar. Desvalorizam-no os que por isto e por aquilo preferem não “arriscar”, aguardando que outros – ainda que menos capazes ou menos preparados – o façam. Desvirtuam-no, finalmente, os que sendo escolhidos pelos seus pares se esquecem que os representam, omitam ou deturpam informação, manipulam os factos e abusam do Poder que lhes foi confiado.
A realidade tem-se mostrado bem mais penalizante para as pessoas do que aquilo que cada uma diz pretender. Culpa delas?! Da sua apatia?! Da sistemática responsabilização de outrem pelos insucessos?!
O que fazer então perante a nossa “culpa” colectiva e a nossa “inocência” individual?! Seria vantajoso que cada um se visse como uma peça que compõe a engrenagem que influi a vida de todos (em sociedade) e entendesse que a existência de uma ou outra peça menos afinada pode prejudicar o funcionamento do conjunto. Não acredito, no entanto, que todos o façamos! Os líderes políticos, de opinião ou de procedimentos – intermédios ou de topo – que deviam incentivar e mobilizar, estão mais habituados a permitir ou a punir.
Esta é a nossa principal limitação! Durante décadas fomos conduzidos, fizemos porque éramos obrigados, precisámos de tutória. Creio que ainda não estamos habituados a cuidar de nós próprios!
Libertamo-nos da ditadura, prescindimos de grande parte dos valores morais da(s) igreja(s) e da predominância que ela(s) tinha(m) na vida de muitos. Contestamos o despotismo da autoridade, seja ela expressa sob a forma judicial, policial, educacional e até das organizações. Prosseguimos agora com as críticas mais ou menos fundamentadas às instituições democráticas, aos que escolhemos para políticos e aos seus colaboradores.
Talvez por isto, também, reine a confusão na economia, no sistema judicial, na democracia representativa, nos empreendedores e um pouco em todo o mundo ocidental. É mais um momento na história dos povos em que não é claro o caminho. Os “guias” estão hesitantes. As pessoas ficam inquietas.
Só a assumpção da dimensão dos problemas encarando-os de frente, e não de soslaio, permitirá – se for feita pela maioria – dar o primeiro passo para a sua resolução, que é reconhecer que eles existem, que nos afectam e não só aos outros. O que está longe de ser garantido é o resultado final. As pessoas perderam a confiança e isso vai tornar mais doloroso o caminho. A todo o momento questionaremos a opção, vários serão os que nos farão duvidar, é possível que envoltos no ruído dos protestos e no nevoeiro dos argumentos comecemos a ziguezaguear e o desejado final feliz tarde. Mas não tenhamos ilusões, de uma forma ou de outra, vão ocorrer danos que poderão não ser só colaterais!                        

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