domingo, 9 de junho de 2013

QUANDO A CIÊNCIA SE “ATRASA” O CONSUMIDOR É QUE PAGA


Quando a procura de energia ultrapassa a oferta, os preços tendem a subir, ainda mais quando falamos de uma capacidade finita de obtenção de energia! De há anos a esta parte que vamos ouvindo falar do fim dos combustíveis fósseis, o que é certo é que a subida do seu preço tem permitido explorar soluções de extracção muito mais onerosas, como é o caso da exploração a grande profundidade nos oceanos, isto quando comparamos estes custos com o da abertura de um simples poço em terra firme.
A actual crise económica europeia moderou um pouco os consumos, o que evitou a continuidade da escalada de preços a que assistimos há uns anos, mas o desenvolvimento das economias emergentes como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, vai conferir a possibilidade a centenas de milhões de pessoas de adquirirem e consumirem mais energia, o que vai incrementar sobremaneira a sua procura.
É neste cenário que todos os desenvolvimentos tecnológicos que garantam fontes alternativas de fornecimento de energia são bem-vindos, desde que naturalmente não ponham em causa a sustentabilidade da vida na Terra, o que parece ser uma limitação, ou pelo menos uma preocupação, ao aproveitamento do gás que está encerrado em formações de xisto.


Como travar o aumento dos preços da energia? Esta é uma das questões em debate na Europa e em Portugal e o gás de xisto está a levantar polémica.
O presidente da Galp Energia, Ferreira de Oliveira, avisou esta segunda-feira que a nova taxa de CO2 sobre a produção, em discussão em Bruxelas, vai agravar os preços dos combustíveis. Na electricidade a ameaça chama-se défice tarifário que mais ano menos ano vai cair em força nas facturas dos consumidores.
As empresas avisam que as necessidades energéticas estão a aumentar e a oferta a diminuir. Não é preciso ser economista para perceber que o preço vai acabar por subir. Jean-François Cirelli, presidente do segundo maior grupo mundial de energia, o GDF Suez, diz que é preciso trilhar novos caminhos. “Nós europeus precisamos de diversificar os fornecedores e as fontes. A questão não é como seremos independentes porque isso nunca acontecerá. A Europa está destinada a importar e cada vez mais porque a produção tenderá a diminuir, o que já está a acontecer”, disse Cirelli.
Os Estados Unidos estão a garantir o abastecimento, protegendo assim os preços, com uma nova fonte: o gás de xisto, mais barato mas bastante polémico.

Gás de xisto. O futuro da energia?
“O gás de xisto é um dos grandes avanços do século", é o que diz à Renascença Michael Suess, um dos administradores da alemã Siemens. No entanto, "devido às diferentes condições no terreno é mais fácil a extracção nos Estados Unidos do que, por exemplo, na Polónia".

Trata-se de um gás natural, preso em formações de xisto no subsolo. A extracção deste gás levanta muitas questões ambientais e na Europa não há consenso sobre a matéria, cada país está a adoptar uma política diferente.
As pretensões das empresas esbarram nas associações ambientais, que alertam para os riscos da exploração de gás de xisto. Em causa está sobretudo a contaminação dos lençóis freáticos e as grandes reservas de água contaminada, usada no processo de extracção, que depois ficam à superfície. O presidente da GDF Suez garante que são problemas com soluções, "todos os furos para extracção de gás e petróleo convencional já atravessam os lençóis freáticos. Temos que tomar muitas precauções, furar com cuidado, mas há muitas companhias que sabem como o fazer. Acho que a verdadeira questão é a água, o uso da água e o tratamento da água, mas também aqui existem tecnologias que podem ser aplicadas”.

O silêncio de Bruxelas
O executivo comunitário ainda não tomou uma posição sobre o tema. Em entrevista à Renascença Philip Lowe, director-geral para a Energia da Comissão Europeia, diz que a questão está em análise, “desde as oportunidades de mercado até ao impacto ambiental, na água e ao nível sismológico".
Philip Lowe refere que será óptimo se a Europa encontrar uma fonte alternativa aos fósseis "mas temos que garantir que esses recursos são explorados respeitando o ambiente e na energia nada é na verdade amigo do ambiente".
Neste momento cada país segue a sua política e há de tudo na Europa. Desde aqueles que proíbem a exploração de gás de xisto (França), até aos que estão a apostar fortemente nesta nova fonte (Polónia). O director-geral para a Energia da Comissão Europeia promete não deixar cada país a falar por si. Este Verão, o mais tardar, serão anunciadas orientações comunitárias.

Preços mais baixos com importação 
Jean-François Cirelli admite que a Europa também pode vir a importar gás de xisto dos Estados Unidos, o que podia baixar os preços para os consumidores europeus. "Talvez um novo fornecedor altere a paisagem europeia e surja uma nova formação de preços, mas temos que esperar para ver. Teremos ainda de esperar pelo menos três ou quatro anos. Os primeiros carregamentos devem chegar só em 2017 ou final de 2016, isto se chegarem".
Entre a produção própria e a importação, entre a tendência de subida dos preços e a protecção do ambiente. É neste ponto que está a exploração do gás de xisto na Europa. Cada país adoptou, para já, a sua política e Bruxelas promete pôr um travão neste vazio onde para já vale tudo.

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