quarta-feira, 1 de setembro de 2010

EXTRACTO DE UMA ENTREVISTA DE HELDER ESMÉNIO


Terça,31 de Agosto 2010

Entrevista
Entrou na política porque se cansou de ficar a ver

Funcionário da Câmara de Salvaterra de Magos há 27 anos, Hélder Esménio foi convidado pelo PS para ser o candidato à presidência daquele município. Duplicou o número de votos e os socialistas tornaram-se a segunda força política no concelho. Foi filiado no PSD desde a juventude, suspendendo a militância para dar a cara pelo projecto socialista. Não poupa críticas à gestão bloquista e à forma de fazer política da presidente do município.
Como é que um funcionário da câmara se candidata à presidência desse órgão autárquico por um partido da oposição?
Quando concorri à presidência da Câmara de Salvaterra de Magos já era funcionário há 27 anos. Todos estes anos deram-me uma perspectiva muito rigorosa do concelho, em termos económicos, geográficos e humanos. Nesse sentido, senti-me à vontade porque com os conhecimentos adquiridos achei que podia contribuir para ajudar a melhorar a qualidade de vida das populações. Quando me candidatei já sabia muita coisa do concelho, das suas necessidades e das pessoas que estão envolvidas. Sentia-me confortável.
Foi convidado?
Sim. Ninguém vai a festas sem ser convidado. Fui convidado pelo Partido Socialista (PS) para liderar uma candidatura à Câmara de Salvaterra de Magos.
Foi fácil quando anunciou aos seus colegas de profissão que ia ser o candidato socialista?
Não é fácil para um colega estabelecer a relação adequada com quem vai ser candidato. Existem inibições próprias das pessoas, porque têm receio de serem vistas a conversar com o seu colega. Esses receios são próprios da condição humana.
Nessa altura como ficou a sua relação com a presidente da câmara?
Não tínhamos grande relação mesmo antes de anunciar a minha candidatura. Eu integrava a divisão de obras municipais e a minha hierarquia era com o meu chefe de divisão e não com a senhora presidente. Não havia relação, não tivemos que nos incomodar um ao outro directamente e pessoalmente.
O facto de ter alguma informação privilegiada enquanto funcionário da autarquia deu-lhe trunfos para a campanha?
Os funcionários da câmara não têm informação privilegiada. Tudo o que se passa numa autarquia é do domínio público ou, pelo menos, deve ser assim. Gerimos procedimentos públicos, procedimentos concursais, a concretização de obras, emitimos pareceres que são públicos. Admito, no entanto, a hipótese que a senhora presidente da câmara tenha no seu grupo mais restrito alguma informação privilegiada. Os técnicos que estão na hierarquia mais abaixo não têm acesso a essa informação.
Duplicou o número de votos no PS em relação às autárquicas de 2005 passando a ser a segunda força política no concelho. A que se deveu esse aumento?
Não devemos ser advogados em causa própria porque podemos parecer imodestos. Acredito que o programa eleitoral que apresentamos teve muito mérito. Tivemos o cuidado de produzir os dois jornais de campanha com as informações mais apelativas. Queríamos que as pessoas votassem em nós pelo mérito das nossas ideias e das nossas equipas e não tanto porque estamos contra as coisas. A conjunção de todos estes factores resultou.
Porque é que aceitou entrar na política?
Acho que me cansei de ficar apenas a ver.
De ver coisas de que não gostava?
Obviamente, se gostasse não entrava. Se não concordamos com determinadas situações e o dizemos aos nossos colegas e amigos, se discordamos por não haver uma estratégia em relação à cultura ou ao desporto, por exemplo, temos que fazer algo. Há momentos na vida em que todos temos que tirar consequências e depois chega a altura de dizermos ‘se és capaz de fazer melhor vai à luta’.
Não se quis ficar pela conversa de café?
Se calhar também foi isso. Aos 50 anos ainda temos um caminho produtivo de 20 anos, mas também já temos um caminho produtivo de 20 ou 30. Estou naquela idade em que já tenho alguma experiência profissional, com muito pouca experiência política desde que sou cidadão activo.
Acha que faltou experiência profissional ao seu antecessor como candidato do PS em 2005, Nuno Antão?
O partido hesitou entre dois modelos de candidatura e não entre duas pessoas. Hesitou entre um modelo de candidatura com um político já experimentado, com muitos anos de traquejo político, com diferentes experiências ao nível da acção política e entre um cidadão essencialmente com formação técnica que pudesse apresentar uma nova roupagem à candidatura do PS.
A sua candidatura afectou a relação com Nuno Antão?
Não. Conheço o Nuno Antão desde que estou em Salvaterra de Magos e sempre tivemos uma relação civilizada e madura. O Nuno é autarca, líder do partido na assembleia municipal. Temos reuniões periódicas de preparação das reuniões da assembleia e articulação de posições. Até temos oportunidade de conversar mais vezes.
(Entrevista integral na próxima edição semanal de O MIRANTE, a publicar esta quinta-feira, 2 de Setembro).

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