terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ENTREVISTA DA SRª PRESIDENTE DA JUNTA DE MARINHAIS

Edição de 26-08-2010

Maria de Fátima Gregório assumiu a presidência da junta de freguesia em Outubro de 2009
Falta de saneamento básico é o principal problema em Marinhais
Maria de Fátima Gregório é a presidente da Junta de Freguesia de Marinhais. Decidiu candidatar-se como independente pelo Partido Socialista após convite de um amigo que integrava o mesmo projecto. Trocou o emprego na Direcção-Geral de Veterinária, em Santarém, onde estava há cerca de 15 anos pelo projecto político. É uma mulher de desafios. Aos 39 anos gere a maior freguesia do concelho de Salvaterra de Magos.


Já tinha pensado em ser presidente de junta?

Nunca tinha pensado nisso. A ideia partiu de um amigo cá da terra, João Santos, que quando se juntou ao engenheiro Hélder Esménio – actual vereador do PS na Câmara de Salvaterra de Magos - decidiram convidar-me para candidata à junta. Um dia o João apareceu no meu local de trabalho e fez-me a proposta. De início fiquei surpreendida com o convite, mas gostei do projecto que me apresentaram e decidi arriscar. Depois de falar com o meu marido, que me deu apoio total, aceitei a proposta.

O que a levou a concorrer ao cargo?

Quando me apresentaram o projecto pensei que estava na hora de mudar os destinos da junta. Eu sabia que o meu antecessor tinha carisma, se vencesse ia para o terceiro mandato e as pessoas gostavam dele. Mas de vez em quando é preciso inovar porque quando estamos muitos anos no mesmo sítio começamos a cometer os mesmos erros e parece que não avançamos. Foi isso que me levou a avançar com a candidatura.

Foi a primeira aventura no mundo da política?

A sério foi a primeira vez. Já tinha participado na vida política, há uns anos, com o executivo do Bloco de Esquerda (BE), que estava na junta antes de mim. Mas não foi uma experiência de que gostasse muito.

É filiada em algum partido?

Não. Quando estive nas listas do BE fui como independente e agora quando concorri à junta pelo PS também foi como independente. Nunca estive filiada em nenhum partido. Acredito sobretudo nos projectos. São mais importantes do que a cor política. Gostei do projecto e das pessoas e foi isso que me levou a participar.

Que balanço faz destes primeiros dez meses de mandato à frente da Junta de Marinhais?

É positivo porque em relação ao contacto com as pessoas era aquilo que esperava. Desde o início que privilegio o contacto com a população, saber quais os seus problemas, o que acham que pode ser feito para melhorar a freguesia. Ando bastante na rua porque acredito que é contactando com as pessoas e com os problemas que temos noção da realidade. Quando não estou na rua estou na junta e faço questão de receber todas as pessoas que aqui vêm para falar comigo.

Quais são as queixas que a população mais lhe faz?

Tivemos um Inverno terrível e nesta freguesia foi muito complicado com as ruas alagadas devido ao entupimento das valas. Tivemos que andar sempre no terreno a acompanhar as diversas situações, a abrir valas e buracos para escoar a água das chuvas, mas felizmente conseguimos resolver. As queixas mais preocupantes são em relação à falta de saneamento básico. É uma situação muito complicada uma vez que ainda existem muitos locais onde ainda não existe saneamento básico. As pessoas requerem a limpeza de fossas e nós, por vezes, não temos capacidade de resposta principalmente no Inverno. Tivemos que alugar um serviço particular para fazer face a todos os pedidos.

Já conseguiram liquidar os cerca de 90 mil euros de dívidas deixadas pelo executivo anterior?

Confesso que fiquei muito surpreendida quando me deparei com esta situação financeira. A dívida aos fornecedores não me aflige tanto uma vez que é uma dívida que tem que existir, para fazermos as coisas temos que nos endividar. A dívida que mais me preocupou foi a que temos à Segurança Social, que é de aproximadamente 52 mil euros de contribuições referentes aos anos de 2007, 2008 e 2009. Desde que assumi a presidência da junta que voltamos a pagar à Segurança Social todos os meses.

E a dívida que não foi paga?

O que não foi pago vai ser negociado com o banco e com a Segurança Social. Espero até ao fim deste ano conseguir negociar esta situação para começarmos a pagar a dívida. Ao iniciarmos o abatimento da dívida já não somos considerados devedores e é mais fácil, por exemplo, ir ao Centro de Emprego pedir pessoas para trabalharem na junta e neste momento não o posso fazer porque tenho esta dívida à Segurança Social.

Como é que se chega a uma situação destas?

Não faço ideia. Nunca falei com o senhor Vitorino Santos (BE) sobre o assunto, mas o que penso é que, como não havia dinheiro, algumas contas a pagar tinham que ficar para trás. Mas deixar de pagar as nossas dívidas não é a solução para os problemas financeiros.

Que metas quer alcançar até final do mandato?

Tinha algumas metas traçadas mas quando cheguei à junta esses planos mudaram por força da situação que encontrei. Acima de tudo, espero chegar ao fim do mandato sem dívidas. Ou, pelo menos, com as chamadas dívidas normais que facilmente se liquidam. Não quero deixar uma dívida brutal que depois não se consiga trabalhar no mandato a seguir.

Que obra gostava de deixar feita neste mandato?

Era algo que tinha que ser feito em conjunto com o município, mas gostava de aumentar os lugares de estacionamento no centro da vila. Já temos algumas ideias para criar alguns espaços para os automóveis poderem estacionar. Estamos também a terminar a construção de 20 ossários no cemitério, que era algo que tínhamos falta, estavam todos ocupados.

Pensa recandidatar-se ao cargo?

Se no final do mandato achar que fiz um bom trabalho, se achar que as pessoas gostaram e se perceber que a população quer que eu continue, recandidato-me. Estou neste cargo para servir a minha freguesia. Se tudo correr bem gostava de me recandidatar uma vez que estou a começar algo do início e gostava de deixar obra feita.

“Reduzimos os dias das Tasquinhas porque não temos dinheiro para mais”

Em 2009, as Tasquinhas de Verão em Marinhais realizaram-se em dois fins-de-semana. Este ano dura apenas três dias. As pessoas não acham que são poucos dias?

Não. Temos mesmo que reduzir porque não temos dinheiro. Do programa constam alguns artistas musicais e posso dizer que a actuação de uma das cantoras foi oferecida pelo empresário da artista. Devemos realizar iniciativas consoante as nossas possibilidades. Julgo que a população de Marinhais conhece a situação financeira da junta e o que conta é a festa e o convívio, mesmo que sejam menos dias.

Este certame é importante para a freguesia?

Muito, sobretudo para as associações porque é uma maneira de se darem a conhecer ao público e às pessoas de fora da terra e é também uma forma de realizarem dinheiro.

O que é que faz falta a Marinhais?

O mais importante é sem dúvida o saneamento básico como já referi. Mas também faz falta a pavimentação das estradas da freguesia, um parque infantil maior adequado à dimensão da população. Temos um complexo desportivo, onde se podia construir também uma piscina. Somos uma freguesia central e com um equipamento desses as populações de Muge, Granho e Glória também podiam usufruir da piscina. Gostávamos de dinamizar mais o recinto de festas que actualmente só utilizamos durante sete dias por ano. Podíamos criar ali uma zona com skate parque, patinagem, entre outras modalidades para atrair os jovens.

Recentemente morreu um homem na passagem de nível na Estrada Nacional 367 em Marinhais. Pretendem tomar alguma medida para reforçar a segurança no local?

Estamos em negociações com a REFER e, em princípio, vão encerrar duas passagens de nível na freguesia de Marinhais nomeadamente na rua da Lagoa e na rua da Olaria. A passagem de nível da EN 367 vai ficar a funcionar, mas aquando do encerramento das passagens de nível será reforçada a segurança nesta passagem da EN 367. A junta queria uma melhor sinalização, que a via fosse pintada com uma cor forte e que ficasse bem iluminada para se perceber que é necessário ter cuidado naquele local. E colocar as cancelas ao longo de toda a estrada.

O mercado diário de Marinhais tem condições para funcionar?

O mercado diário é muito antigo e actualmente não tem boas condições de funcionamento. É pouco utilizado tendo apenas duas pessoas todos os dias e mais outra pessoa ao fim-de-semana. Temos também o talho naquele local apenas ao fim-de-semana.

A solução passa por encerrar definitivamente o mercado?

Sinceramente, ainda não sei qual é a solução para aquele espaço porque, como sabemos, a ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) está atenta a estas situações. Provavelmente se a ASAE viesse ao mercado de Marinhais acontecia o mesmo que está a acontecer nos outros, que é fechar. A solução seria uma remodelação profunda e criar um mercado com pequenas lojas, onde cada comerciante ficaria responsável pelo seu espaço.

Que argumentos utilizaria para convencer pessoas de fora a virem morar para Marinhais?

Somos uma vila ainda com o gostinho de aldeia. Somos uma freguesia grande mas num meio rural. As pessoas que vivem em Marinhais têm o seu quintal, onde podem fazer a sua própria horta. Aqui não há stress, temos qualidade de vida e ainda conseguimos ouvir o chilrear dos pássaros, algo que nas grandes cidades é praticamente imperceptível. Espero que Marinhais continue assim.

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