domingo, 6 de novembro de 2011

HOUVE ÓPERA EM SALVATERRA DE MAGOS

"Sobressai a toda esta vila a eminência da Casa da Ópera de Sua Majestade e adjunto a esta o Palácio Real" observava o padre Miguel Cerqueira nas "Memórias Paroquiais" que redigiu em 1758.
Do que podemos ler na obra: "O Paço Real em Salvaterra de Magos" da autoria de Joaquim Manuel da Silva Correia e de Natália Brito Correia Guedes o Real Teatro de Salvaterra de magos foi inaugurado em 21 de Janeiro de 1753 com a ópera "Didone Abandonata".

(Estudo cenográfico do 1º acto, 1ª cena, da peça que inaugurou o Teatro)

Diversas representações, dramas, sérios ou jocosos, "intermezzos", se sucederam com grande êxito cénico e musical  sempre que no Inverno a Família Real permanecia em Salvaterra.
"A sala de espectáculos de Salvaterra tem uma lotação de 500 pessoas; tem três filas de camarotes de primeira (três camarotes de cada lado); ao fundo um anfiteatro com uma galeria que prolonga de cada lado os primeiros camarotes. Este anfiteatro está coberto com um reposteiro franjado, apoiado em pilares como uma tenda; neste se situa o lugar do Rei que se senta num cadeirão, ao meio, tendo à sua direita o Infante D. Pedro, seu irmão e seu genro e à sua esquerda a Rainha, a Princesa do Brasil e as três outras princesas e ao longo da galeria, à esquerda, as damas de honor. O outro lado, à direita da galeria, fica vazio, há oito segundos e oito terceiros camarotes que são ocupados por portugueses aos quais se oferecem bilhetes. Os Ministros do Rei estão sentados na plateia com os fidalgos, sem distinção de categoria. (...) A ópera dura 4 horas; verificando-se o maior silêncio."

(Idem, 3º acto, 3ª cena, da peça inaugural)

O gosto pela música era timbre da Família Bragança, atraindo-os em especial a ópera. Depois de o terramoto de 1755 ter reduzido a cinzas o Teatro junto ao Paço da Ribeira, a "Ópera do Tejo"  (inaugurado 7 meses antes), os teatros do Paço de Queluz, da "Quinta de Cima" da Ajuda e o do Paço de Salvaterra passam então a ser frequentados com maior assiduidade pela corte.
Sobretudo o de Salvaterra não interrompe a sua actividade; no período conturbado que se seguiu à grande catástrofe, a corte acompanhando a Família Real manteve as deslocações àquela vila , no início de cada ano.
"No Carnaval de 1792 (as representações eram sempre no Carnaval) ainda em Salvaterra foram postos em cena dois dramas e uma comédia; com a abertura do Teatro de S. Carlos, em 1793, cessou a sua actividade como teatro de ópera."

(Em cima estudo cenográfico de 1765 e em baixo da 3ª cena, 1º acto, do drama "Il vologeso"

"De 1753 a 1792, foram representadas em Salvaterra 64 produções operáticas e ali actuaram os mesmos artistas dos restantes teatros régios".
Durante as invasões francesas o Teatro, como todo o Palácio, esteve abandonado; em 1818 ficou muito danificado por um grande incêndio que no entanto parece ter poupado o Teatro, pois em 1824, no Carnaval, na noite de 28 de Fevereiro, ensaiava-se a farsa "Manuel Mendes Enxundias" levada á cena por amadores, entre os quais o Infante D. Miguel

1 comentário:

  1. Como acreditar que um dia houve aqui uma "Casa de Opera", num concelho onde hoje não hà um teatro um cinema, e um espectáculo (digno desse nome). "O pobre concelho de Cegos que és conduzio por cegos." Tanto patrimonio desperdiçado,tanta passado abandonado, tanta cultura por descobrir.

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