Na edição do jornal FUNDAMENTAL publicada recentemente, consta um artigo em que se destaca a evolução de Portugal nas últimas décadas em sectores como: a saúde, a educação, na investigação, na justiça, na cultura e na protecção social. Os dados estatísticos que ali sistematizo são a melhor resposta a todos quantos neste momento difícil clamam pelo Estado-Novo. Informe-se, leia.
Podia esperar mais uns meses e abordar
este tema aquando da celebração do 38º aniversário do 25 de Abril de 1974, mas
preferi não o fazer pois pretendo que estas palavras sejam mais do que a mera
evocação de uma data.
É nos momentos mais difíceis, em que
duvidamos do mérito do percurso que fizemos e hesitamos sobre qual o caminho a
trilhar, que devemos ter sempre presente o que de bom e menos bom alcançámos
por ter vindo por aqui. Só a ponderação dos prós e contras poderá fundamentar (e
sustentar) a decisão a tomar.
É do conhecimento de todos os
portugueses os sacrifícios porque passamos e que em 2012 ainda se agravarão.
Várias são as pessoas que, nos fóruns das rádios e televisões, um pouco por
todo o lado, clamam por Salazar, arguindo que nessa altura as contas do País
estavam equilibradas e não havia dívida pública, não valorizando - nessa
apreciação simplista - o fim da guerra colonial, da polícia política e da
censura, em suma, a conquista da liberdade e da democracia. É o que faremos
também!
Porque vários daqueles comentários
provém de quem ignora a(s) realidade(s), até porque as não viveram, vamos então
comparar a vida actual com o que se passava em meados da década de 70 do século
passado, tendo por base indicadores estatísticos que felizmente se encontram
disponíveis [PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo] e que tratadas
conjuntamente permitem uma resposta objectiva àquele tipo de comentários
subjectivos.
Na
saúde, de 1975 para
2009, o número dos casos de tuberculose reduziu-se em 75%, os óbitos infantis
diminuíram em 90%, a taxa de mortalidade materna recuou de 42,9 para 7 mortes
por 100.000 habitantes e a esperança de vida evoluiu de 67,6 anos para os 79,2
anos (76,1 anos para os homens e 82,1 anos para as mulheres).
A obtenção destes resultados só terá
sido possível porque, no mesmo período, passámos de 1.000 habitantes por médico
diplomado (em 1970) para 265 pessoas por médico (em 2009) e de 630 para 180
habitantes por enfermeiro. Este aumento do número de profissionais de saúde
permitiu que 99,6% dos partos se realizam em estabelecimentos de saúde, quando
em 1970 isso acontecia apenas em 37,5% dos casos. Dez anos depois do 25 de
Abril de 1974 os centros de saúde garantiam 17,6 milhões de consultas, em 2009
esse número aumentou 10 milhões. Também o número de urgências passou de 5 para
10 milhões.
Na
educação, em 1974,
havia 3.600 crianças na pré-escola, em 2010, são 142.000. O ensino secundário
passou a contar com 370.000 estudantes em vez de 39.000. No ensino superior a evolução
também foi muito importante, em 1978 havia 77.500 alunos e em 2010
frequentam-no 294.000 jovens.
Enquanto isto, as despesas com
actividades de investigação e
desenvolvimento realizadas nas empresas, no Estado, nas IPSS e no ensino
superior cresceram, nas últimas três décadas, de 32,6 milhões de euros para
2.790,8 milhões de euros, noventa vezes mais.
No
sector da justiça,
antes do 25 de Abril de 1974, cerca de metade dos arguidos eram condenados,
14.000 pessoas em 26.000. Em 2009 a taxa de condenação ultrapassa os 60% e o
número de arguidos e condenados multiplicou por 5, o que desmente – de algum
modo – o sentimento de impunidade sempre propalado quando se fala do sistema
judicial. As prisões estão ocupadas a 97% da sua capacidade efectiva. Temos hoje
4 vezes mais magistrados judiciais e magistrados do Ministério Público que em
1974.
Na
cultura opto por
apresentar alguns dados estatísticos sobre as bibliotecas. A Biblioteca
Nacional tinha 630.000 livros (em 1974) e agora (em 2009) conta com 2,7 milhões.
Em trinta anos o número de bibliotecas em Portugal quadruplicou, o número de
utilizadores passou de 3,2 milhões para 8,6 milhões/ano e o número de volumes
disponíveis triplicou, passou de 11 para 32 milhões.
Foi talvez na protecção social dos seus cidadãos que o Estado português mais “investiu”.
Em 1978 a Segurança Social apoiou 66.500 desempregados, agora apoia 300.000
(metade dos desempregados inscritos nos Centros de Emprego não recebe subsídio
de desemprego).
Actualmente beneficiam de subsídio parental
inicial 149.000 portugueses e mais de meio milhão ao ano recebe subsídio de
doença. O Estado Social criou o subsídio de morte e de funeral (100.000
cidadãos, em 2010), o subsídio mensal vitalício (12.000, em 2010), a
bonificação por deficiência (75.000, em 2010) e subsídio por assistência de 3ª
pessoa (13.000, em 2010). Mais de meio milhão de portugueses recebem hoje
Rendimento Social de Inserção (RSI).
A Caixa Geral de Aposentações
atribuiu, em 2010, quase 600.000 pensões de sobrevivência, invalidez, reforma
ou aposentação. A Segurança Social, por seu turno, apoiou 1,9 milhões de
beneficiários da pensão de velhice, 700.000 têm pensão de sobrevivência,
144.000 beneficiam de reforma antecipada, 16.000 de subsídio de funeral e
81.000 de subsídio por morte. Há assim, em Portugal, 3.473.392 pensionistas, em
1973 este número era 80% inferior.
A mistificação do período anterior ao
25 de Abril assente na ignorância, ou reescrevendo a História, é um desafio que
se coloca a todos. Espero com este modesto artigo ter contribuído para uma
análise mais informada do caminho que juntos fizemos e isso talvez ajude a
explicar os encargos que hoje temos!...
Por mais desanimados e desesperançados
em que nos encontremos não devemos estar disponíveis para que nos mintam e iludam,
têm sido as más escolhas, feitas sem
critérios objectivos, baseadas na imagem e não em conteúdos, assentes na
afabilidade e não no saber, que nos causaram problemas. Não podemos ser
menos cuidadosos na escolha dos nossos representantes políticos a nível da
administração local ou central do que somos quando adquirimos uma televisão.
Afinal, no primeiro caso, é a nossa via e a dos nossos familiares que está em
jogo! Não sei se já teremos aprendido esta lição?!...
Helder manuel Esménio
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