sábado, 17 de julho de 2010

A velhice chega demasiado cedo, a sabedoria demasiado tarde

(Por: Beja Santos)

O aumento da esperança da vida graças aos progressos da medicina e à mentalidade dos auto-cuidados; o maior controlo do sofrimento, a separação entre a relação sexual e acto reprodutivo; a estruturação da segurança social e a segurança na velhice, são alguns dos factores que contribuíram para que o cidadão se confiasse menos à divindade e mais na busca do desenvolvimento pessoal.
Serve este preâmbulo para apresentar uma estimulante leitura, uma proposta de conselhos para viver com mais vitalidade, confiança e coragem intitulada “A velhice chega demasiado cedo, a sabedoria demasiado tarde”, por Gordon Livingston (Editorial Presença), reputado psiquiatra que confia ao leitor dados sobre a sua experiência de vida, a sua longa prática clínica e a perda dolorosa de dois filhos.
São pequenos ensaios sobre áreas fundamentais da nossa vida. A mudança é a essência da vida, quem aspira a viver melhor, ter uma nova profissão, encontrar felicidade, prova que tem saúde e até que estão dispostos a mudar a sua percepção da realidade. Quando, por exemplo, morre um ente querido ou um amigo nosso e lhe pedimos que tenha coragem, o que no fundo lhe estamos a propor é que pense na sua vida de uma nova forma, e isto é tão válido como para quem quer superar uma doença, um quadro de dependência ou a falta de equilíbrio na vida de relação. Por isso Livingston alerta que “compreender por que motivo fazemos as coisas é muitas vezes uma condição prévia para a mudança”.
Não existem mapas para guiar as nossas buscas mais importantes, uma coisa é a determinação, outra a nossa capacidade para nos abrirmos ao imprevisto e confiar na esperança. Daí os itinerários sobre a aprendizagem (não consiste tanto em acumular respostas mas em descobrir a forma de formular boas perguntas), a forma como pensamos a nosso respeito, a importância que atribuímos à verdade (a verdade pode não nos libertar, mas não há maior loucura do que mentirmos a nós próprios para retirar apenas uma satisfação passageira), o modo como superamos a dor pelas perdas.
As propostas de Gordon Livingston não substituem as convicções religiosas, confinam-se ao universo de valores em que nos movemos independentemente da religião ou do ideário político. Descobrir o nosso padrão de vitalidade, confiança e coragem é uma relação complexa, notável, para nos relacionarmos connosco, com os outros, descobrir limites, equilibrarmos as nossas escolhas e a nossa abertura aos imprevistos. É assumir a responsabilidade e descobrir a alegria em encontrar o respeito pelos outros e com os outros. Daí o acertado do título provocatório deste livro de aconselhamento para o nosso desenvolvimento pessoal: a velhice chega demasiado cedo, a sabedoria demasiado tarde.

(in Jornal O RIBATEJO on line
http://www.oribatejo.pt/2010/07/a-velhice-chega-demasiado-cedo-a-sabedoria-demasiado-tarde/)

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