domingo, 17 de julho de 2011

ARACNOFOBIA (artigo de opinião)


Este artigo de opinião foi publicado na última edição do jornal O FUNDAMENTAL e está disponível em http://www.jornal-fundamental.com/noticias_show.htm?noticia=1205&title=Aracnofobia.


Todo o exercício do Poder - público ou privado - obtido de forma electiva ou não, tem em seu torno alguns seres vagueando, para além de mais ou menos desapoderados grupos de interesses, todos tecendo a TEIA DESSE PODER. Influenciar, condicionar, blindar e beneficiar são algumas das palavras-chave da maior parte destas laboriosas aranhas que se movimentam sem parar, atemorizando todos os que – correligionários, adversários ou outros – ousem aproximar-se do núcleo do Poder. Implícita ou explicitamente toleradas, o certo é que elas ali gravitam!
São algumas destas teias, aos mais variados níveis do Poder, que acabam a fazer o trabalho menos digno, que maldizem e maltratam, sujam o edifício democrático. Com o envelhecimento [do Poder] as teias são cada vez maiores, chegando mesmo a debater-se com a falta de espaço e de alimento, pois o número de (incautos) insectos – que garantiram a sobrevivência de tantas aranhas que se centram em torno daquele Poder – começa a escassear. Nessa fase instala-se um certo mal-estar.
Este excesso de colaboradores, de parasitas, de caciques ou de invertebrados servos tende a contaminar o próprio Poder, que se vai revelando incapaz de a todos satisfazer. As aranhas mais insatisfeitas deixam de tecer, outras abandonam as teias e o Poder algo fragilizado pela idade e pelo crescente descontentamento tende a endurecer posições, luta pela sua sobrevivência! Era precisa muita lucidez a quem exerce o Poder para, nesse momento, se lembrar que o Poder não é seu, foi-lhe confiado enquanto for útil ao colégio eleitoral.
A limitação do número de mandatos constitui um óbice importante à eternização do Poder, ainda que desta forma também se possam perder grandes estadistas e enormes gestores, a História demonstrou que é uma medida útil, pois raramente quem está em condições de prosseguir, de ser recandidato, prescinde dessa possibilidade.
Com a maior rotatividade do Poder vamos ter aranhas mais esforçadas, as teias do Poder vão ser mais frequentemente removidas. Creio mesmo que no próximo ano de 2013 vai ter lugar um dos mais importantes e eficazes actos de higienização da política autárquica e da nossa vida democrática. Pena é que isso resulte de impedimento administrativo e não de decisão sábia do colégio eleitoral!
Os politólogos e os estudiosos do fenómeno democrático estão certamente expectantes, o comportamento das aranhas vai ser seguramente objecto de muitos trabalhos e julgo que até de teses de mestrado. Os que acreditam no mérito dos regimes democráticos confiam que – face ao número de teias de Poder que vai ser preciso (re)fazer – haverá momentos em que os eleitos não terão “rede” pois muitas das aranhas serão inexperientes. As novas teias do Poder serão por isso menos resistentes, menos eficazes, terão menor vida útil e isso contribuirá para a renovação e o rejuvenescimento das práticas políticas.
Não é seguro, no entanto, que em todas as situações esta realidade seja vantajosa. Algumas das aranhas desta nova fornada, provavelmente as mais inseguras, não permitirão ter por certo que a(s) teia(s) do Poder estão mais atentas ou disporão de uma sensibilidade mais apurada. O futuro nos dirá!
Se esta nova geração falhar, copiar o modelo dos que a antecederam, se não inovar, se não envolver, se não motivar, se não acreditar e fizer crer, se nada mudar, creio que passaremos a ter um colégio eleitoral repleto de aracnofóbios e aí, sem teias, o Poder só pode cair na rua… para um dia recomeçar tudo de novo!
Outros cá estarão, por essa altura, para falar dessa outra experiência!

5 comentários:

  1. É um facto que essa "teia de interesses" pela e na politica, nasce quase na pré-primária, nas "jotas" e é de muito cedo que se começa a tecer essa rede de interesses e amizades. (Mas isso não mau só por si, é bom ter amigos é bom participar na vida publica.)

    Com o tempo começam a achar que são eles os senhores, e que começam a controlar o poder e a sua influência... e dali não saem não têm uma vida profissional noutros sectores que não seja na zona dos "boys" na zona confortável dos amigos da mesma cor.


    A questão é temos que aceitar isto?! Temos que nos conformar essa teia?!

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  2. Caro Eng. H.E.
    Por momentos fiquei convencido que estava a ler o livro O Senhor dos Aneis, nomeadamente o episodio em que entre uma aranha ... mas gostei da comparação. Outros, antes, já tinham comparado essa teia aos tentaculos de um polvo. que também me faz recordar uma série da década de oitenta sobre a máfia italiana. Isto das novelas políticas está a dar-lhe uma capacidade para a escrita que desconhecia em si, parabens.

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  3. É porque ainda não leu o meu livro... não porque seja do ponto de vista literário um documento excelente... até porque não tenho as "ferramentas" para o atingir... mas é, pelo menos, a minha visão de algumas coisas. Obrigado.

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  4. Creio mesmo que no próximo ano de 2013 vai ter lugar um dos mais importantes e eficazes actos de higienização da política autárquica e da nossa vida democrática.
    A sua agora anunciada não candidatura é uma boa noticia

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  5. É perfeitamente compreensível que para alguns dos autarcas que cessam funções e para a teia que geraram em torno do SEU Poder a diminuição do número daqueles que se lhes oponha é uma boa notícia. Tanto mais que algumas das aranhas dessa teia ainda esperam poder vir a integrar uma nova teia, a da candidatura que mais próxima esteja do poder actual. É humano!
    A minha não candidatura em 2013 é uma das possibilidades em aberto, falarei disso em próximo post, a publicar no dia 28 de Julho de 2011. Até lá então!

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