quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

MUSEU DA GLÓRIA DO RIBATEJO


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O Museu da Glória do Ribatejo conserva um espólio apreciável de objetos do quotidiano e da cultura da população daquela localidade do concelho de Salvaterra de Magos. Fomos conhecer este espaço através da Associação de Defesa do Património Etnográfico e Cultural através do seu presidente, o museólogo e historiador Roberto Caneira. 
Em 1986 quando surgiu a associação, um grupo de jovens convencido de que muitos dos hábitos e das tradições da Glória poderiam desaparecer decidiram fundar o núcleo em causa, com uma recolha junto da população de objetos que vão desde mobiliário, ao enxoval das mulheres da aldeia, passando por outros artefactos do quotidiano, “com o objetivo de estudo e divulgação daquele património”. Foram criados dois núcleos museológicos – a casa tradicional, e mais tarde o museu etnográfico. “Muito do que aqui podemos observar ainda podemos verificar na indumentária e nos usos das mulheres mais idosas”, refere Roberto Caneira. 
A casa tradicional é composta por um quarto com as clássicas camas de ferro e um pequeno berço feito em cortiça destinado ao bebé da família-tipo da classe rural. Na cozinha são observáveis os tradicionais utensílios fabricados em lata e esmalte como havia antigamente, a roupa de casa feita com os célebres bordados de outrora, “presentes em todos os aspetos da vida, menos na morte, desde os cortinados ao paninho do móvel”. 
“Esta casa obedece à arquitetura do sul do Ribatejo, feita de adobe e de taipa e não de xisto como é norma no norte do país.” Normalmente as casas só tinham duas a três divisões. A maioria das pessoas não possuía casa de banho, mas a lareira tinha um lugar central na vida doméstica. A lavagem da roupa fazia-se nos ribeiros. Transversal a muitas gerações rurais do país, e neste caos também às da Glória do Ribatejo – a memória da compra do primeiro par de sapatos. “Muitos só os tiveram quando tinham já 11 ou 12 anos”, evoca Roberto Caneira.
Mas a partir da década de 50, a vinda da Raret também permitiu uma melhoria das condições de vida, com a população a absorver também algumas “características” norte americanas. “A população deve muito à Raret, (posto de retransmissão dos Estados Unidos para a Europa durante a Guerra Fria) pois apareceram novas profissões como os serralheiros. A Raret doou terrenos e contribuiu para a vinda da luz elétrica para a Glória”. Foi também graças à escola da Raret, que funcionou até aos anos 90, que muitos jovens prosseguiram mais tarde os estudos, sendo que esta freguesia há alguns anos atrás era a que possuía mais licenciados do concelho.  “A escola praticava um ensino muito rigoroso”.
Ainda no que toca às tradições e às diferentes etapas da vida, também na Glória, o lenço dos namorados era um ex-libris do modo de vida das então gerações mais novas. “O lenço tinha as iniciais do rapaz e da rapariga que o bordava. Quando o rapaz o usava na lapela significava perante a comunidade que tinha assumido um compromisso”, dá a conhecer o museólogo. Quando se chegava à altura do casamento, os vestidos de noiva da mulher gloriana primavam pela sua peculiaridade apresentando cores diversificadas, e bordados. “Era a própria noiva que o confecionava, comprando antecipadamente o tecido em Coruche”. O museu possui fatos doados que remontam à década de 20, (os mais antigos), bem como das décadas subsequentes. O mais recente data de 1949. “A mulher fazia o seu vestido com muito preciosismo com pregas, bordados e rendas. Na freguesia do Granho também eram confecionados mas não com este grau de detalhe”. 
Na ala das exposições temporárias, o museu exibe uma mostra de fotografias comparativas entre a aldeia nos anos 40 e 50 até ao aspeto atual, patente até finais de junho, sempre com a ruralidade como mote. “Por exemplo, hoje ainda subsiste um agricultor que usa a carroça quando vai para a charneca, e o homem gloriano no seu modo de vestir abandonou o colete, mas ainda continua a usar o chapéu ou o boné”. “O sentimento das gerações mais novas é de grande respeito mútuo para com as gerações mais velhas, e vice-versa”, sentencia.
O museu recebe visitas mediante marcação junto da associação, contudo se o visitante chegar à Glória do Ribatejo poderá dirigir-se à junta de freguesia, onde um funcionário se encarregará de abrir o espaço. “O museu tem esta característica de servir de repositório e de informar sobre aspetos deste património que os jovens não conheceriam de outra forma, enquanto os mais velhos revêem-se no que aqui se encontra. O museu apela também muito aos sentimentos”.

Sílvia Agostinho

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